O brasileiro produziu em 2022 mais de um quilo de lixo por dia, calcula a ABRELPE, uma associação de empresas do mercado de gestão de resíduos sólidos. Na ponta do lápis, isso corresponde a 224 mil toneladas diárias. Mas, e se pudéssemos extrair riqueza desse mar de lixo? Isso já é possível quando se canaliza o biogás – aquele que se origina da fermentação da matéria orgânica com a ação das bactérias anaeróbicas (que não usam oxigênio) nos aterros sanitários.

Não faz muito tempo, essa era uma possibilidade inviável economicamente. O gás resultante do lixo é leve e de baixo valor calórico em relação ao gás natural, por exemplo. Na sua composição encontra-se cerca de 50% de metano, 40% de dióxido de carbono e outros gases em menor concentração. Ou seja, o biogás era tido como inútil ou inviável de se extrair economicamente há a cerca de 20 anos. E ambientalmente, extremamente nocivo. Afinal, ainda que parte do gás de aterro seja composto por outros gases, o metano ali presente produz efeitos negativos para efeito estufa. Segundo a ONU, ele é cerca de 25 vezes mais nocivo que o CO2.

No entanto, quando o metano encontrado nesse gás do lixo é captado, pode ser transformado em importantes insumos – algo extremamente desejável do ponto de vista ambiental. Conceitualmente, a exploração do biogás é simples. Dutos sob os aterros o canalizam até um moto-gerador que, na prática, faz as vezes de uma pequena usina termoelétrica. Os investimentos envolvidos nesses projetos são da ordem de R$ 5 milhões a R$ 6 milhões por megawatt, com um breakeven obtido, em média, entre três a quatro anos, podendo a energia  ser utilizada tanto no âmbito do mercado livre (ACL) , como no âmbito da geração distribuída (GD).

O governo federal se deu conta do valor recurso. Até 2040, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos indica que o país deverá destinar 63,4% do seu lixo urbano para a produção de biogás. Caso essa meta seja alcançada, esse volume será o suficiente para abastecer com energia elétrica 9,5 milhões de domicílios. Grosso modo, isso representa um pouco mais de um terço do que gerou Itaipu no ano passado. Vale frisar que as vantagens da destinação do biogás à produção de energia elétrica são inúmeras. Além do aproveitamento de um recurso que vinha sendo desperdiçado, e da captação de um gás de efeito estufa, a geração da energia resultante dá-se próxima dos centros consumidores, barateando o custo de transmissão. Moral da história? Está mais do que na hora de termos um outro olhar para o lixo de nossas cidades. Ali está uma fonte de energia de alto valor.

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