Ao que tudo indica, o fenômeno climático El Niño não dará trégua até os primeiros meses de 2024. A previsão é do International Research Institute for Climate and Society (IRI), da Universidade de Columbia, e do Centro de Previsão do Clima da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês). A previsão sugere que o fenômeno continuará se intensificando no Hemisfério Sul até o primeiro trimestre do próximo ano.
A principal característica do El Niño é o aquecimento anormal e persistente da temperatura da superfície do Oceano Pacífico na região da linha do equador. Este ano, desde que sua ação foi identificada, em meados de junho, a temperatura na superfície oceânica perto da costa sul-americana permaneceu acima da média.
Setor elétrico e o tempo
E por que isso preocupa? Eventos climáticos impactam diretamente o setor de energia, pois atingem a geração hidrelétrica, bem como estressam a infraestrutura da rede elétrica, a partir da ocorrência mais frequente de granizo, temporais, vendavais ou incêndios sob os linhões. A seca que castiga os estados do Norte, por exemplo, levou ao desligamento da hidrelétrica de Santo Antônio, uma das mais importantes do País, pois a menor vazão do rio Madeira poderia comprometer as máquinas da usina. Como efeito dominó, no dia 4 de outubro, deu-se, ainda, o desligamento do linhão do Madeira que liga as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau à subestação de Araraquara (SP) para priorizar o abastecimento do Acre e Rondônia.
Desafios à frente
Outras consequências do El Niño têm sido chuvas torrenciais no Sul do Brasil e forte estiagem na região Norte. O Brasil registrou, ainda, o inverno mais quente em décadas. Já, a previsão de temperatura para os próximos meses é que ela se mantenha acima da faixa normal na maior parte do país.
Segundo a especialista em clima, Marcely Sondermann, meteorologista da equipe técnica da área de energia do portal Climatempo, “até novembro, pelo menos, o país todo sofrerá com ondas de calor em várias regiões, as quais resultarão em temperaturas próximas dos 40° em vários pontos”. A especialista também informou que no Nordeste, esses efeitos poderão favorecer incêndios localizados – mais um risco a mais para o grid da região.
Por esses e outros fatores, tendo em vista o crescimento do estresse sobre a rede elétrica causado pelas mudanças climáticas, o Ministério de Minas e Energia convocou uma consulta pública para criar diretrizes para minimizar os efeitos de eventuais apagões. É a lógica do seguro, que morreu velho. “Melhor prevenir do que remediar”.