Certificação e proximidade com fontes de energia limpa foram destaques do painel sobre hidrogênio e amônia verde do 3º EMEG

A certificação da produção de hidrogênio de baixo carbono no Brasil é fundamental para expansão do uso do insumo no mercado interno, mas principalmente para exportação. “A certificação de toda a cadeia produtiva é decisiva para dar credibilidade à produção do hidrogênio de baixo carbono no país, indicar as empresas elegíveis de incentivos fiscais e dar garantia às empresas que pretendem utilizar o insumo para descarbonizar seus processos produtivos”, pontuou Eduardo Rossi, conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). 

O tema foi um dos pontos centrais do painel “Potenciais e desafios para o hidrogênio e amônia verdes”, que ocorreu durante o 3º Encontro Migratio de Energia e Gás, em 17 de setembro, na sede da Asparcer, em Santa Gertrudes, interior de São Paulo (80km de Campinas).

Rossi informou que a CCEE já está atuando como certificadora e a empresa foi responsável pela certificação das duas primeiras usinas de hidrogênio verde que entraram em operação na América Latina. “A CCEE começou primeiro a certificar energias renováveis por meio de uma plataforma, que está sendo adaptada para a certificação de hidrogênio verde”, disse.

Logística

Outro ponto de destaque do painel foi a importância das usinas de produção de hidrogênio verde e amônia estarem próximas às fontes de energia renováveis e pontos de consumo. Leandro Borgo, Presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio e Amônia Verdes (ABHAV) lembrou que parte da energia renovável, eólia e fotovoltaica, que é gerada no Nordeste, não é injetada na rede para evitar risco de sobrecarga. “Usinas de hidrogênio de baixo carbono poderiam ser instaladas junto a esses parques para utilização dos excedentes. E, em termos estratégicos, talvez fosse o momento de o país pensar na criação de um gasoduto, com ramificações, que trouxesse esse hidrogênio para a regiões Sul/Sudeste do país”, disse.

As questões relativas ao envase e transporte são gargalos ao uso de hidrogênio, não apenas no Brasil, mas em todo mundo. Gustavo Noronha, gerente de Projetos de Tecnologia da Toyota do Brasil, disse que a multiplicação dos locais de distribuição do insumo é um dos pontos que tem dificultado a adoção de veículos movidos a célula de hidrogênio.

“A Toyota já tem essa tecnologia desenvolvida e madura. Iniciamos as pesquisas ainda na década de 90. Hoje temos mais de 20 mil unidades do modelo Mirai circulando pelo mundo com a tecnologia de célula de hidrogênio embarcada, mas são basicamente veículos de frota por questões de abastecimento”, informou o executivo. De acordo com Noronha, a tecnologia tem grande potencial de ser utilizada em frotas de veículos de carga e de ônibus. “Os veículos à célula de hidrogênio têm grande autonomia e, no caso de uso por frotas, podem ser abastecidos em pontos específicos. Acreditamos no potencial desse mercado”.

Custos do hidrogênio 

Os custos envolvidos hoje na produção de hidrogênio de baixo carbono, em particular relativos aos equipamentos necessários, têm dificultado também a ampliação do seu uso.  Para André Ferrarese, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento na Tupy, assim que a questão de equalização dos custos for superada, haverá um imenso mercado para o uso industrial do hidrogênio de baixo carbono. “A Tupy é uma siderurgia e somos a maior fabricante do país de blocos e cabeçotes para motores. Seguramente utilizaríamos muito mais hidrogênio verde se o valor do insumo fosse equalizado com os demais insumos utilizados no processo de fabricação”, afirmou. Para ele, outros setores com uso intensivo de energia elétrica ou combustíveis de origem fóssil também fariam a migração.

De acordo com o diretor de pesquisas da Tupy, a boa notícia é a de que o Brasil tem potencial para se tornar o país que mais rapidamente produzirá hidrogênio de baixo carbono a preços acessíveis no mundo. “Nossa matriz energética é uma das mais limpa do planeta, portanto temos condição de avançar na produção e reduzir custos rapidamente”, destacou.

Amônia

Hidrogênio de baixo carbono e energia de fontes limpas e renováveis são os principais insumos para a produção de amônia de baixo carbono para uso como fertilizante. Aqui, novamente, ganha importância a proximidade das usinas de produção com os pontos de consumo. 

De acordo com Luiz Paulo Hauth, diretor de Tecnologia da Begreen Bioenergia e Fertilizantes Sustentáveis – uma das empresas na qual o Grupo Migratio tem participação acionária – as pequenas usinas locais são um modelo ideal para viabilizar os custos de produção de fertilizantes hidrogenados de baixo carbono no país.  “Nosso modelo de negócio e tecnologia agregam a autoprodução de energia com a produção de amônia ou ureia de baixo carbono. Setores agrícolas que já utilizam resíduos como biomassa para produção de energia, ou mesmo pequenas centrais hidrelétricas, podem fazer uso dessa estrutura para a produção de amônia”, explicou.

Hauth ressaltou que a autoprodução de energia e a proximidade da produção dos fertilizantes com unidades agrícolas tornam a produção de amônia verde muito competitiva em termos de preços e no fator descarbonização. “A energia para produção advém de fontes limpas e renováveis e a proximidade com o local de consumo reduz a necessidade de transporte. Tudo isso baixa custos e limpa a cadeia produtiva”, explica.

Hauth informou, ainda, que a Begreeen e o governo estadual do Rio Grande do Sul acabaram de assinar um memorando de entendimento (MOU) para que três fábricas – a serem construídas nas cidades de Passo Fundo, Tio Hugo e Condor. As duas primeiras unidades já estão em fase de licenciamento ambiental e a terceira em processo fundiário. O objetivo é que possam, ao longo dos próximos três anos, beneficiarem-se dos incentivos do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio do estado e que contribuam para uma agenda de substituição de importação de insumos agrícolas.  “Essas três usinas vão usar energia de pequenas hidrelétricas (PCHs) e a produção de fertilizantes será utilizada por agricultores das regiões em que estão instaladas. O sucesso desses empreendimentos viabilizará a expansão do modelo pelo país”, acredita ele.

O projeto já chamou a atenção de investidores internacionais. De acordo com Hauth, a Begreen acabou de firmar parceria com a Oriental Consultants Global do Brasil, multinacional japonesa controlada pelo grupo Oriental Consultants Global. “Além de investimentos no projeto, a OC Global irá agregar à Begreen experiência em planejamento e gestão de projetos”, finalizou.

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