Como compatibilizar, em tempo real, a geração de eletricidade com o consumo dessa energia? O que fazer quando nuvens carregadas bloqueiam parcialmente a luz que incide sobre os painéis solares, ou quando o vento da madrugada cessa, deixando imóveis os imponentes aerogeradores de parques eólicos? Há remédio quando uma linha de transmissão se rompe, impactando a tensão na rede? Como minimizar as variações de tensão no sistema elétrico?
Parte da resposta a essas questões pode estar nas baterias de armazenamento. O tema foi além dos centros de pesquisa e rodas de especialistas e já está na mesa dos C-level das empresas e autoridades. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por exemplo, já o encampou em seus planos. Por outro lado, o país deverá contar com o seu primeiro leilão para sistemas de armazenamento de energia em baterias no ano que vem. Aliado a ele, o Ministério de Minas e Energia (MME) deverá abrir uma consulta pública sobre o tema, para melhor regular e liderar essa questão.
Ao redor do mundo, leilões de energia já adotam a geração, aliada à capacidade de armazenamento. Na prática, as baterias permitem “estocar” parte da energia gerada para que possa ser usada em momentos de menor geração, regularizando a tensão na rede elétrica. Por isso mesmo, trazem a promessa de trazer maior resiliência e flexibilidade à infraestrutura do Sistema Interligado Nacional (SIN) – tanto na geração, quanto na transmissão e distribuição. E ganham grande relevância ante o notável crescimento das fontes intermitentes – a exemplo da solar e da eólica, as quais, somadas, já representam mais de 20% da matriz energética brasileira.
A verdade é que a intermitência dessas energias renováveis tem sido um desafio para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). As baterias surgem, portanto, como um caminho para amenizar excessos e falhas de geração de energia. Por isso mesmo há quem estime, a exemplo da Clean Energy Latin America (CELA), que esse mercado, venha a movimentar US$ 12,5 bilhões anuais no Brasil, e que representará 7,2 GW de capacidade instalada até 2040.
A despeito das projeções, o atual cenário indica que, a partir de 2025, as baterias ganharão cada vez mais relevância para apoiar a transição energética que o país busca. E se tornarão um importante segmento da já complexa infraestrutura elétrica brasileira e mundial. Não perde quem acompanhar de perto o desdobramento da Consulta Pública sobre o tema, assim como leilão de capacidade do ano que vem. As cenas desses próximos capítulos apontam para um futuro de menores riscos e maior estabilidade energética.